segunda-feira, 2 de março de 2009

Nacionalismo Musical

O Nacionalismo Musical deu-se na segunda metade do século XIX, Na Rússia, nos Países de Leste, Inglaterra, Espanha, etc, onde o domínio da música alemã era visto como uma ameaça á criatividade musical de cada nação. É marcado pelo ênfase dado a elementos nacionais da música, como canções tradicionais, danças e ritmos tradicionais.
Este movimento inicia-se na Rússia com um importante movimento de renovação nas artes, essencialmente na literatura com Puskim, Leon, Tolstoi, Dotoievsky e Tchekov. O primeiro compositor russo reconhecido internacionalmente foi Mikhail Glinka. Estando em Espanha dois anos (1846/48) percebeu que entre os dois países existem inúmeras diferenças culturais decidindo transmiti-lo na música erudita, firmando assim a sua reputação com a ópera patriótica "Uma Vida pelo Czar" (1836), que mostra já uma escrita melódica com um carácter marcadamente russo. É deste modo o pai da escola russa. Da sua obra destaca-se também a ópera "Ruslan e Ludmila" (1842).
A ópera "Russalka" (1856) de Dargomizhsky prosseguiu com a preocupação com a prosódia russa, o que se fez em parte recorrendo aos modelos da música popular, influenciando mais tarde Mussorgsky.
Deste modo, Glinka e Dargomizhsky defenderam uma fusão entre a música popular e a música erudita.
No entanto, os compositores russos mais importantes reuniram-se no final do século XIX num grupo conhecido como o "Grupo dos Cinco". São eles: Balakirev, Cui, Borodine, Mussorsky, Rimsky-Korsakov.
Nenhum destes homens, à excepção de Balakirev receberam formação musical sistemática, por isso, a falta de conhecimento da teoria musical obrigou-os a recorrerem a material popular como o folclore. Estes compositores são importantes na fundação de novas estruturas musicais, criando uma escola russa com o objetivo de disseminar o pensamento nacionalista.
Balakirev, o mais profissional do Grupo dos Cinco, usou de forma muito conseguida melodias populares no poema sinfónico "Rússia" (1887). Cesar Cui é de todos o compositor menos importante destacando-se essencialmente como critico musical onde defendia a estética nacionalista. Borodine, deixou que Balakirev o convertesse à causa nacionalista. As suas obras mais importantes são o poema sinfónico "Nas Estepes da Ásia Central" (1882) e a ópera "Principe Igor" (1890). Raramente citava melodias populares, mas o espírito do folclore impregnava as suas melodias.
Modest Mussorsgky, o maior compositor do grupo dos cinco recebeu de Balakirev a maior parte da sua formação musical. Defende a verdade artistica (a música não tem de ser bela) e a preocupação com a prosódia russa (continua o trabalho de Dargomizhsky). Outra característica da música de Mussorgsky é o seu caracter modal influenciando compositores da música modernista. Destaca-se o seu poema sinfónico "Uma Noite no Monte Calvo" (1867) e a ópera "Boris Godunov" (1874), entre outros.
O último membro do grupo, Rimsky-Korsakov, faz a ligação entre esta geração e os compositores russos do século XX. Foi professor de composição no Conservatório de Sampetersburgo destacando-se o seu tratado de orquestração datado de 1908, exerceu também alguma actividade como maestro. Da sua obra destaca-se a Suite Sinfónica "Sheherazade" (1888), abertura "A Páscoa Russa" (1888) e a ópera "O Galo de Ouro" (1909).
Smetana e Dvorak foram os principais compositores checos do século XIX. A Boémia fora durante séculos um dos territórios da coroa austríaca. A sua música caracteriza-se pelos vestígios ocasionais de melodias, ritmos e danças populares como o "dumka", "furiant" e as "polkas". Os traços nacionais manifestam-se de forma mais evidente em obras como a ópera "A Noiva Vendida" (1866) de Smetana e nas "Danças Eslavas" de Dvorak. Porém, o compositor checo com tendências exclusivamente nacionalistas foi Janacek, que ouvia e recolhia a música popular do seu país e daí introduzia esses elementos na sua música. Faz a transição para o neo-folclorismo. Destaca-se a sua ópera "Jenufa" (1903), "Missa Glagolítica" e a "Sinfonietta" ambas de (1926).
Na Noruega o nacionalismo é representado por Grieg, cuja obra de destaque são as suas duas suites "Peer Gynt" (1875 e 1886) baseadas em temáticas norueguesas.
Na Dinamarca destacou-se Carl Nielson com "Hino à Dinamarca" (1917) e na Finlândia, Sibelius. Este, não recorre ao folclore sendo a modalidade um factor fundamental na sua música. A partir de 1910 abandona a exploração nacionalista. Destaca-se o poema sinfónico "Finlândia" (1899) e as "6 Canções Folclóricas Finlandesas" (1903).
Na Inglaterra o nacionalismo chegou mais tarde. Elgar foi o primeiro compositor após Purcell no século XVII a ser internacionalmente reconhecido. Da sua obra destaca-se as "Variações Enigma" (1899). O renascimento musical inglês inaugurado por Elgar adquiriu cariz nacionalista com Cecil Sharp e Waghan Williams no século XX.
Em Espanha, a característica do seu nacionalismo é a definição da guitarra como um instrumento nacional e o renascimento das zarzuelas que vão estar em voga no século XIX.
Filipe Pedrell inaugura o nacionalismo espanhol para o qual contribuiram as obras de Isaac Albéniz com a sua suite "Ibéria" (1909), Granados, Tarrega e Turina que se destacam essencialmente na produção para guitarra. Destacam-se também as "Goyescas" (1911) de Granados e a "Sinfonia Sevilhana" (1920) de Turina. Mais tarde no neo-folclorismo destacar-se-á também Joaquin Rodrigo.
Também em Portugal o nacionalismo musical se fez sentir. Com Alfredo Keil, autor do hino "A Portuguesa" e Augusto Machado com a ópera "A Triste Viuvinha". Mas, principalmente, com a influância de Viana da Mota e Freitas Branco que introduzem o modernismo em Portugal. Viana da Mota através de Liszt introduz o pós-romantismo alemão e Freitas Branco que estudou em França introduz o impressionismo na música portuguesa.

Felix Mendelssohn-Bartholdy

Compositor alemão (Hamburgo, 1809 – Leipzig, 1847). Nasceu no seio de uma família burguesa e culta, de ascendência judaica. O seu avô Moses Mendelssohn era filósofo (conhecido como o Moderno Platão) e o seu pai, Abraham, banqueiro. O pai fez baptizar os seus quatro filhos na igreja luterana, com os nomes Fanny, Félix, Rebecca e Paul, e acrescentou ao apelido familiar o nome Bartholdy, que provinha de umas terras da família da mulher, Léa Solomon.
Abraham e Léa conceberam aos seus filhos, os quatro dotados para a música, uma esmerada educação. Embora Paul tenha sido um bom violoncelista e Rebecca se tenha dedicado ao canto, só Fanny e Félix se destacaram suficientemente para que os seus pais apoiassem a sua dedicação à interpretação e à composição.
Acompanhados pelo pai, Fanny e Félix chegaram em 1816 a Paris para estudar com a pianista Marie Bigot, intérprete predilecta de Beethoven. No seu regresso a Berlim, onde a família Mendelssohn se tinha instalado em 1813, Fanny e Félix estudaram, com os melhores professores, cultura clássica e geral, música e outras disciplinas artísticas (Félix foi também um hábil e sensível pintor).
Em 1818, Félix tocou pela primeira vez num concerto público e, no ano seguinte, começou a estudar na Singakademie de Berlim. A sua formação nessa instituição marcaria o seu estilo como compositor, inequivocamente romântico, mas também um clássico inconfundível, respeitador da tradição e ao mesmo tempo aberto às novas correntes. Na Singakademie, Friederich Zelter educou-o nas técnicas e procedimentos clássicos, praticando de forma rigorosa o baixo cifrado, a harmonia, o contraponto e a fuga. Em pouco tempo, o domínio destas técnicas e processos fez de Félix um compositor tão seguro quanto de escrita fácil e precoce, e as suas primeiras composições, de uma surpreendente maturidade, datam de 1820. A família Mendelssohn apoiava as audições das obras do jovem Félix dando concertos dominicais em sua casa, aonde acudiam importantes personalidades do mundo artístico berlinense. Em Março de 1825, durante uma visita de Mendelssohn a Paris, o influente compositor Cherubini mostrou-se entusiasmado com o seu Quarteto com piano, nº3, êxito que animou o jovem músico, que empreende, então, uma actividade criativa imparável; em Outubro desse mesmo ano compôs uma das suas obras mais famosas, o Octeto, e, no ano seguinte, a popular abertura de Sonho de uma noite de Verão. Com estas duas obras, o jovem Mendelssohn passou a ser considerado um dos grandes compositores europeus de então.
Entre 1826 e 1828, Mendelssohn estudou na Universidade de Berlim, onde teve como professor Hegel, entre outros. Terminou de forma tão brilhante que o seu pai acedeu a que se dedicasse por inteiro à música.
Em 1823, tinha-se dado um facto de grande importância na vida de Mendelssohn: a sua avó oferecera-lhe pelo Natal o manuscrito da Paixão segundo S.Mateus de J.S.Bach, obra por então esquecida. A 11 de Março de 1829 dirige na Berliner Akademie esta magna composição, um século depois da sua primeira audição; a sua versão supôs uma autêntica «ressureição» de Bach e um renovado interesse pela música do velho mestre. Viajou muito, dando a conhecer obras que permaneciam esquecidas; não só de Bach mas também de Haendel, Beethoven, entre outros autores do passado, para além das suas próprias, conseguindo sempre grandes êxitos onde se apresentava. Depois da morte de Zelter, em 1832, aspirou, sem conseguir, dirigir a Singakademie de Merlim. Depois, desenvolveu a sua actividade musical em Düsseldorf, Grã-Bretanha e, finalmente, Leipzig, onde em 1835 foi nomeado director da Gewandhaus. Em 1837 casou-se com Cecília Jeanrenaud, com que teve cinco filhos. Continuou a compor e a dar a conhecer as suas obras, sempre saudadas com entusiasmo pela crítica, pelo público e pelos outros músicos, ao mesmo tempo que viajava para Inglaterra, onde o adoravam, Berlim e outras cidades alemãs.
Em 1843 fundou-se o Conservatório de Leipzig, do qual Mendelssohn foi nomeado director e professor de composição. Em 1847, ao regressar à Alemanha depois de uma das suas viagens a Inglaterra, recebeu a notícia da morte da irmã Fanny, o que o afectou profundamente e motivou a criação de uma das suas obras mais pessoais e sentidas, o Quarteto de Cordas, op.80. embora tenha continuado a viajar e a compor, com dificuldades e sem vontade, sentia-se apático e imerso numa profunda tristeza pela perda da sua irmã, ressentindo-se disso a sua saúde; morreu a 4 de Novembro do mesmo ano.
A música de Mendelssohn, elegante e equilibrada, de impecável leitura, sólida e ao mesmo tempo lírica, é o fiel reflexo da sua personalidade. Viveu uma existência feliz (que só conheceu as sombras no final dos seus dias devido à morte da sua irmã) durante a qual desfrutou de uma grande fama e de uma entusiástica, e praticamente unânime, valorização das suas obras.